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Assunto Justo

D. João II ficou registado na nossa história como o “Príncipe Perfeito” que apenas governou durante 14 anos. Inflexível com os inimigos, distinguiu-se na defesa de interesses estratégicos do reino, quer nas negociações com os reis espanhóis sobre a divisão do mundo , quer na expansão na costa africana.

D. João II, que reinou de 31 de Agosto de 1481 a 25 de Outubro de 1495, começou por se distinguir na batalha de Toro e na conquista de Arzila “onde foi armado cavaleiro junto ao cadáver de bravo conde de Marialva”, como recorda e menciona Teixeira de Aragão no seu livro sobre a descrição das moedas cunhadas em nome dos reis, regentes e governadores de Portugal.

O monarca, filho de D. Afonso V, nasceu em Lisboa no dia 31 de Maio de 1455 e faleceu no Alvor a 25 de Outubro de 1495, três anos antes da descoberta do caminho marítimo para a Índia, objectivo que havia sido iniciado no seu reinado.
Citado no mesmo livro de Teixeira de Aragão, Garcia de Resende, que “foi moço da câmara de el-rei D. João II”, retrata o monarca como um “Homem de bom parecer, mean estatura, bem feito, rosto e nariz compridos, tez alva e corada, barba preta, cabelo corredio e castanho, começando a encanecer e a engordar depois dos trinta anos.Dotado de grande força muscular, boa memória e inteligente, com a voz um pouco nazal, religioso e justo sem crueza, não extremava categorias para fazer acatar as leis, que elle próprio respeitava. Gostava muito de dançar e caçar, montava a cavalo com perfeição e nas suas acções era magnanimo, fazendo-se respeitar e estimar de todos.”

Nesta descrição do rei falta mencionar o outro lado, nomeadamente, a repressão implacável das duas conspirações de que foi alvo ou até mesmo o vigor que deu aos Descobrimentos portugueses. As conspirações tiveram origem na sua vontade de centralizar o poder, tendo retirado aos nobres vários privilégios, entre os quais o da jurisdição criminal.

Tais factores levaram à oposição dos fidalgos portugueses, como faz referência Teixeira de Aragão. A primeira conspiração teve como figura principal o duque de Bragança, D. Fernando II, que viria a ser decapitado na praça de Évora, em 22 de Junho de 1483. A segunda foi liderada pelo duque de Viseu. D. Jaime, que viria a ser apunhalado pelo próprio rei, em Setúbal, no dia 22 de agosto do mesmo ano.

Nos descobrimentos, D. João II foi um visionário. Um dos exemplos foi a assinatura do Tratado de Tordesilhas com os reis de Espanha. Através deste acordo conseguiu satisfazer os seus interesses e do reino ao exigir que a linha divisória que separava os impérios de Portugal e Espanha fosse traçada a 370 léguas a ocidente de Cabo Verde.

O rei já teria informações sobre a existência do Brasil, descoberto em 1500 por Pedro Álvares Cabral. D. João II expandiu a influência portuguesa na costa africana, tendo iniciado em 1482, a construção da feitoria portuguesa de São Jorge da Mina. Foi no seu reinado que se iniciaram os preparativos para a chegada à Índia.

Diogo Cão, Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva são alguns dos nomes que marcaram a era de D. João II por causa das expedições feitas em África.

Determinado em aumentar e diminuir o prestigio para esse efeito- o justo- e apresentou um novo escudo do reino, sem a cruz de Aviz ” tornando as quinas pendentes e fixando em sete o numero de castelos”. Usou os mesmos títulos do seu pai, tendo acrescentado mais um, o do senhor da Guiné.

Nas moedas, criou dois novos tipos em ouro, o já referido Justo e o Meio Justo ou Espadim. Durante este reinado cunharam-se ainda, em prata, Vinténs, Meios Vinténs e Cinquinhos. Manteve-se a cunhagem de Ceitis em cobre. As moedas eram cunhadas em Lisboa e no Porto.

No Natal de 1489 o rei D. João II enviou uma carta aos Corregedores de Justiça, Vereadores e Procuradores que ficaria para a história do reino e da numismática. O seu objectivo resume-se em duas palavras: fama e respeito.

Pretendia alcança-lo com uma moeda de ouro “de peso de dois cruzados cada peça e daquele mesmo toque e fineza e que tenha nome de Justos e por cunho de uma parte o escudo de nossas armas com a coroa em cima dele e da outra parte de nós armado.”

Nasceu assim o Justo, uma moeda de prestígio “nobre e rica” batida em pequenas quantidade e destinada a projectar o poder do rei e de Portugal. São raros os exemplares que chegaram até aos nossos dias e foi só em 1999 que surgiu um Justo.

Para conhecermos o seu “percurso” é preciso recuar até 1890. É nesse ano que aparecem as primeiras referências a esta moeda através do comerciante suíço Jules Meili. Entre 1868 e 1892 ele esteve no Brasil e aí aprendeu a língua portuguesa e conheceu a numismática brasileira e portuguesa.
Começou então a sua coleção de numismática que incluía moedas, medalhas e contos para contar. Meili não se limitou a coleccionar, tendo também escrito vários livros e artigos sobre a numismática de Portugal e do Brasil.J.Leite de Vasconcelos refere, no seu livro “Da Numismática em Portugal” que Meili “esteve em relações epistolares com muitos numismatas portugueses.”

O Autor fala nos nomes de M.F. de Vargas, Campos e os Senhores Braga, Cavaleiro e Castelo Branco. ” Também conheço uma carta de Meili para Aragão, de 24 de Maio de 1898″, afirma.Batalha Reis, na sua ” Cartilha da Numismática Portuguesa” fala de Meili nestes termos: ” As obras de Meili baseavam-se no seu magnifico numofilácio, que em 1898 contava 8329 peças das quais faziam parte 632 exemplares da Índia portuguesa, o que constituía uma das melhores coleções reunidas ate hoje dessa série”.
O que pouca gente sabia era que entre as raridades de Jules Meili estava um Justo do Porto. Esta moeda foi leiloada a 23 de Maio de 1910, em Amsterdão, por J.Schulman, depois da morte de Meili, ocorrida em 26 de Setembro de 1907. “Monnaies Continentales et Coloniales du Portugal.

O lote 25 era onde se encontrava o “Justo do Porto” que, na altura, fazia parte da coleção de António de Carvalho Monteiro. Tratava-se de um “grande capitalista de Lisboa. Era português, nascido no Brasil, em 1851″, afirma Batalha Reis. No primeiro volume da ” Descrição Geral e Histórica das Moedas Cunhadas em Nome dos Reis, regentes e Governadores de Portugal”, Teixeira de Aragão descreve Carvalho Monteiro como um “bacharel formado em Coimbra” que “cultiva a numismática, e a série portuguesa é já importante, não só pelo número e boa escolha dos exemplares, como também por possuir muitos raros”.