A História do meteorito que não virou pó.

A tragédia ocorrida no dia 02 de setembro de 2018 no Museu Nacional reforça a necessidade da atuação no âmbito das ciências da informação e da documentação, principalmente na gestão integrada de acervos e armazenamento  digital.
Em Porto Alegre – RS, a Arxius do Brasil, parceira do CEMIP é rigorosa na observação do código deontológico arquivístico que regra por garantir a guarda e acesso responsável dos acervos:
1- Manter a integridade dos arquivos e garantir, desse modo, além da funcionalidade jurídico-administrativa, que eles constituam um testemunho do passado, duradouro e fidedigno.
2- Preservar a autenticidade e todas as particularidades dos documentos durante as operações de tratamento, conservação e exploração.
3- Assegurar sempre a comunicabilidade e a compreensão dos registros informacionais.
4- Ser responsáveis pelo tratamento dos documentos e justificar as suas modalidades.
5- Facilitar o acesso do maior número possível de usuários aos arquivos permanentes.
6- Procurar encontrar um justo equilíbrio, no quadro da legislação em vigor, entre o direito ao saber e o respeito pela vida privada.
7- Buscar melhorar o nível profissional e renovar, sistemática e continuadamente, os conhecimentos e partilhar os resultados de pesquisas e experiências com profissionais afins.
8- Por atuar em uma área necessariamente multi e transdisciplinar, busca trabalhar em colaboração com colegas e membros de profissões próximas a fim de garantir, amplamente, a conservação e a dinamização do patrimônio documental.
9- Assegurar a confidencialidade dos registros informacionais que são objetos de tratamento documental.

Portanto, a implantação destes preceitos são de suma importância para assegurar o acesso à informação. O CEMIP E a ADB do Brasil perseguem a multidisciplinariedade, a excelência na prestação de serviços especializados, a sinergia entre colaboradores de distintas e complementares áreas de formação para ofertar soluções integrais e comprometidas com o desenvolvimento de nossos clientes.

Mas o contexto apresentado tem um propósito. Durante o rescaldo dos bombeiros no Museu Nacional uma imagem se destacou. Era a do Meteorito de Bendegó que permanecera integro mesmo após o incêndio.

Recentemente a ADB e o CEMIP trabalharam no tratamento e digitalização do fundo documental – J. TUPI CALDAS, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Neste fundo há um livro de autoria do Sr. Caldas que faz referência ao destacado Meteorito.

Meteorito de Bendengó, como encontrado pela expedição Carvalho, em 1887

       Meteorito de Bendegó, como encontrado pela expedição Carvalho, em 1887.

O livro ‘Mineralogia e Geologia’, J. TUPI CALDAS, traz na página 331 a informação que o meteorito de Bendegó foi descoberto, em 1784, por Joaquim da Mota Botelho, no interior da Baía, nas proximidades do riacho Bendegó, afluente do rio Vasa-Barrís, na comarca de Monte-Santo. A primeira tentativa para enviá-lo para Lisboa, foi realizada, no ano de 1785, por Bernardo Carvalho da Cunha. A “grande pedra” foi montada sobre um carretão puxado por 12 juntas de bois, porém, na descida da colina, o carretão ficou inutilizado e a “grande pedra” foi encalhar no riacho Bendegó, situada a 180 metros do lugar em que fora descoberto o meteorito em questão. As primeiras informações científicas foram fornecidas pelo geólogo A. F. Mornay, que, em 1810, visitou o interior da Baía, examinando o meteorito de Bendegó; retirou um fragmento que enviou à Sociedade Real de Ciências de Londres, por intermédio do dr. Wollaston, que em nota de 16 de Maio de 1816, comunicou o resultado da análise química. A análise do dr. Wollaston deu a seguinte composição: Ferro 95,1%; Níquel 3,9%; Diversos corpos 1,0 totalizando: 100,0%. A média de todas as determinações de densidade do meteorito de Bendegó é de 7,56.
O meteorito foi trazido do interior da Baía pelo almirante José Carlos de Carvalho, por ordem pessoal do Sr. Dom Pedro de Alcântara, imperador do Brasil, então interessado como membro da Academia de Ciência de Paris, em satisfazer um pedido do meio científico. O meteorito de Bendegó está recolhido ao Museu Nacional do Rio de Janeiro, desde o dia 27 de Novembro de 1888. Na galeria de meteoritos do Museu de Geologia da Universidade de Paris existe um modelo em madeira do meteorito de Bendegó, feito no Arsenal de Marinha, no Rio de Janeiro.
A História do resgate

Um grande bólido luminoso surgiu declinando incandescente e sonoro desde o alto do céu, até se chocar com grande estrondo contra o flanco de um vale coberto pela caatinga. Ao repousarem os últimos fragmentos da grande nuvem de poeira levantada pelo choque, o silêncio calou fundo ao redor. Um certo dia do ano de 1784 um guardador de rebanhos que campeava pela caatinga se deparou com aquela pedra estranha. No ano seguinte, em 1785, o Governador da Província encarregou o Capitão Mor da Vila do Itapicuru de realizar o transporte da misteriosa “pedra” para Salvador. A tarefa, no entanto, era demasiada para os recursos disponibilizados, pois apesar de ter pouco mais de dois metros de diâmetro, a “pedra” pesava mais de cinco toneladas, e não havia estradas na região, nem infraestrutura que permitisse o bom desempenho da missão. Na tentativa de transportá-lo, o meteorito foi parar no leito do rio Bendegó (ou Bendengó), e o episódio foi traumático o suficiente para encerrar a operação. Lá permaneceu cem anos.

Em 1810 alguns cientistas viajariam até o sertão para ver a pedra. O francês Aristides F. Mornay (1779 – 1855) reconheceu-a como sendo de fato um meteorito. Com alguma dificuldade conseguiu arrancar-lhe pequenos pedaços remetendo-os junto com suas considerações de pesquisador para o químico inglês Willian H. Wollaston (1766 – 1828), seu amigo e secretário da Royal Society, que em 1816 publicou um artigo sobre o meteorito no famoso jornal da entidade, o Philosophical Transactions.

Meteorito de Bendegó ilustrado por Aristides Franklin Mornay em 1810, no sertão da Bahia. Imagem: Royal Society. Blog O Guardador de Estrelas.

Meteorito de Bendegó ilustrado por Aristides Franklin Mornay e publicado no Philosofical Transactions em 1816. Imagem: Royal Society.

Outros dois célebres naturalistas que viajaram para aqueles sertões para ver a pedra foram Martius e Spix, que em 1820 também retiraram pequenas amostras do meteorito, uma delas para o Museu de Munique. A viagem épica destes dois naturalistas pelo Brasil é uma epopeia riquíssima, verdadeiro monumento ao conhecimento e à busca do saber, e suponho que Dom Pedro II, que amava mais a ciência e a astronomia do que a política, certamente deve ter lido os resultados da saga daqueles naturalistas, que vieram da Áustria, acompanhando a corte de sua mãe, Dona Leopoldina, da família dos Habsburgos.

Um dia em que fazia uma visita a Academia de Ciências de Paris, D. Pedro II se deparou com fragmentos tirados do meteorito brasileiro (um dos maiores do mundo conhecidos à época), e se convenceu de que deveria levar o meteorito de Bendegó para o Rio de Janeiro. A expedição de transporte protagonizaria uma verdadeira façanha, demorada e custosa, mas em junho de 1888 a Princesa Isabel receberia o meteorito na Corte.

A expedição de transporte do meteorito pelo sertão foi liderada por José Carlos de Carvalho e os engenheiros Vicente de Carvalho Filho e Humberto Saraiva Antunes, fazendo uso de cabos, roldanas, estralheiras e outros equipamentos e  técnicas comuns à marinharia, a frente de um pequeno grupo de homens e de animais, transpuseram em 126 dias, todos os obstáculos até a então moderna estação férrea de Jacuricy, no atual município de Itiúbas, a cerca de 113 quilômetros de onde o meteorito jazia quando foi encontrado.

Expedição Carvalho: operação de transporte do Meteorito de Bendegó do sertão da Bahia ao Rio de Janeiro. Blog O Guardador de Estrelas.

Expedição Carvalho: operação de transporte do Meteorito de Bendegó pelo sertão da Bahia – 1887/1888. Imagem: meteoritosbrasileiros.weebley.com.

Obstáculos enfrentados pela expedição de transporte do Meteorito de Bendegó no sertão da Bahia, liderada pelo vice-almirante Carvalho. Blog O Guardador de Estrelas. Fonte da imagem: www.meteoritosbrasil.weebly.com

Obstáculos enfrentados pela expedição de transporte do Meteorito de Bendegó no sertão da Bahia. Imagem: meteoritosbrasileiros.weebley.com.

Bendengó e o carretão que o carregou em 1887 pelo sertão da Bahia. Blog O Guardador de Estrelas.

Esta história só foi possível contar porque foram tomadas providencias que garantiram o acesso às informações, disponíveis nos originais. Infelizmente a sorte dos mais de 20.000.000 de itens do Museu nacional não tiveram a mesma sorte.

Segundo José Luiz Pedersoli Júnior, químico e especialista em gestão de risco e patrimônio cultural, rochas, como o meteorito, são peças que devem sobreviver ao incêndio. “O meteorito não é um material combustível, ou seja, ele não reage ao oxigênio do ar e não responde ao processo de combustão. Ele já entra na atmosfera pegando fogo. Então, o que tinha para ser queimado nele, já foi”, diz. Segundo Pedersoli, outros materiais do acervo, feitos de vidro e cerâmica, podem ter sobrevivido ao fogo, pois também não são combustíveis — contudo, peças do tipo podem ter quebrado ou sido danificadas pela fuligem.

Ainda não há um levantamento oficial sobre quais outras peças do acervo, composto por 20 milhões de itens, resistiram às chamas ou foram salvas antes de o fogo consumir o museu. O museu tem três andares e prédios anexos, localizados na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte do Rio de janeiro.

As informações aqui postadas são do site meteoritosbrasileiros.weebly.com e do livro ‘Mineralogia e Geologia’, J. TUPI CALDAS, assim como as imagens, estão disponíveis na web.

É o Cemip cumprindo com o seu papel de preservar e divulgar a Memória e a Informação.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *