O Mundo Líquido e a nova percepção do dinheiro

O Dinheiro Líquido e os Cartões Virtuais.

Yuri Victorino

    Por buscar e descobrir tesouros numismáticos – tesouros que nem sempre tem valor fiduciário, ou seja, não são lastreados a nenhum metal (ouro, prata) e não tem nenhum valor intrínseco – é que por vezes chegam raridades às minhas mãos: dinheiros, derivados, documentos ou expressões numismáticas. Quando cito dinheiro me refiro ao meio usado na troca de bens, na forma de moedas ou notas (células), usado na compra de bens, serviços, força de trabalho, divisas estrangeiras ou nas demais transações financeiras, emitidos e controlados pelos governos (em alguns momentos os dinheiros não governamentais aparecem como elementos da numismática moderna – Cartões). Também a unidade contábil onde o seu uso pode ser implícito ou explícito, livre ou por coerção. Muitos itens podem ser ou foram usados como dinheiro, desde metais, conchas, vegetais e outras coisas como as artificiais notas bancárias da atualidade, ou os dinheiros virtuais dos cartões.

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O professor de economia Kenneth Rogoff da Universidade de Harvard e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, publicou em 2009, o livro Oito Séculos de Delírios Financeiros — Desta vez é diferente. A obra foi escrita em parceria com Carmen Reinhart. É uma análise histórica das crises financeiras. Rendeu acalorados debates por tratar da incapacidade dos investidores de enxergar as bolhas financeiras. Bolha financeira refere-se a uma falsa replicação de capitais sobre um único capital. Ou seja, todos eles são credores do mesmo capital, replicado para servir ao mercado imobiliário (imóveis) e mobiliário (títulos e ações), gerando uma bolha.

Em 2016, Rogoff voltou à carga com outro livro que causou polêmica — The Curse of Cash – “A maldição do dinheiro”. No livro, ele prega o fim do papel-moeda nos países desenvolvidos. Cria o apelo para eliminar progressivamente o dinheiro impresso e cunhado, para segundo ele reduzir a corrupção, a evasão fiscal, tráfico de drogas e a economia subterrânea.

Rogoff (Nova York, 1953), argumenta que o dinheiro físico tornou-se “uma maldição”. Discute como a economia poderia sobreviver sem dinheiro, em linha com o uso decrescente do papel-moeda nas economias avançadas, tais como o anúncio do Banco Central Europeu para interromper a impressão da nota de 500 euros em 2018.

 

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 O dinheiro em circulação, diz o autor, fomenta a evasão fiscal, a corrupção, a lavagem de dinheiro, o terrorismo, o tráfico de drogas e de pessoas e da economia subterrânea, especialmente o papel-moeda de grande valor. A retirada das cédulas “dificultaria” as atividades criminosas. Para os EUA uma grande parte da oferta de moeda global está em cédulas de alto valor. Observa que os cidadãos comuns “raramente tem acesso ou usam notas nestes valores” e considera este fato o “mais problemático”. Defende que as células devem ser eliminadas em primeiro lugar.

O economista do Fundo Monetário Internacional (FMI) 2001-2003 propõe desvincular a economia do papel-moeda, um elemento que “pode dificultar” a política monetária, e diz que este fator colaborou com a recente crise financeira porque os investidores acumularam dinheiro. Neste sentido, o plano de Rogoff passa por eliminar o dinheiro físico, passo à passo. Para essa transição, aborda questões como a estabilidade dos preços e da necessidade de fornecer cartões de débito subsidiados para os mais desfavorecidos. Ele também detalha como o desuso do dinheiro físico – papel e moeda –  poderia beneficiar as moedas digitais. E que no futuro, esta moeda digital, deverá ser controlada pelos governos e por empresas privadas. Também defende a importância do ouro como uma referência.

Por estas razões, o economista explica como estas medidas poderão controlar a inflação e como isso afetaria a gestão das taxas de juros pelos bancos centrais. Mas alerta para o fato da cibersegurança ser um elemento de preocupação.

O fato é que o uso do dinheiro virtual, ou como eu chamo: “dinheiro líquido” já é uma realidade e está em expansão. Este “dinheiro líquido” é amplamente usado através dos cartões de débitos, créditos, pré e pós pagos, usados para pagamentos e depósitos.

O termo “dinheiro líquido”  verte da criação de conceitos como a teoria da modernidade líquida de Zygmunt Baumann, que define o tempo atual como uma era de mudanças e movimentos constantes, onde nada solidifica, tudo é instável, fragmentado e disperso, determinado pelo curto prazo e pela incerteza permanente. E isso tanto é perceptível na forma como nos relacionamos com o tempo “Tempo Líquido”, como na vivência nas cidades onde somos obrigados a coabitar com os Outros “Medo Líquido” ou nas relações afetivas “Amor Líquido”. Nada é suficientemente determinado – nem as ideias, nem as relações, nem os empregos, nem a crise atual, causada pela dissociação entre as escalas das forças econômicas globais e dos poderes políticos nacionais. Sustenta Baumann.

Os cartões pré-pagos por exemplo, são usados em viagens internacionais e outros serviços que necessitem de trânsito entre longas distâncias. Eles substituem, de maneira alternativa os travelers checks. Podem ser carregados em diferentes moedas e proporcionam maior segurança para o usuário, do que se ele levasse o dinheiro em espécie. Os cartões nasceram na onda dos celulares pré-pagos e funcionam de forma parecida. O cliente carrega um valor e pode adicionar novas quantidades conforme o dinheiro creditado for acabando. O “dinheiro líquido” serve como substituto do papel-moeda. Segundo Sérgio Kulikovsky, CEO da Acesso, que possui o AcessoCard, alega que “Ele pode ser usado até por uma criança que gosta de comprar jogos na internet, por exemplo, mas não tem cartão para usar.”

O uso dos pré-pagos é interessante porque pode carregar apenas o valor suficiente para fazer a compra, evitando o risco de os dados serem usados em outras transações. A vantagem para compra em sites estrangeiros, ao contrário das operações feitas com cartões de crédito, que estão sujeitas a um Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6,38%, os pré-pagos estão sujeitos a um Imposto menor, de 0,38%.

Mas não são só vantagens. No caso do uso dos pré-pagos “As tarifas para saque nãos são baixas, o que é uma desvantagem”, diz o economista Samy Dana, professor da FGV-SP. “Como algumas empresas também cobram pelo carregamento, o pré-pago não é interessante se a ideia for ficar fazendo muitos depósitos.”

O “dinheiro líquido” não só promove a inclusão financeira como substitui bem o papel-moeda. Sendo assim deve ser considerado como Elemento Numismático. Os cartões e seus derivados devem ser considerados itens numismáticos e consequentemente estudados e preservados. Aqui no Centro de Memória e Informação Pessoal já estamos recolhendo estes cartões para no futuro constituir uma coleção.

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Se seus documentos, fotografias, livros ou objetos tridimensionais necessitam de gestão, tratamento e digitalização, o Cemip pode promover ações destas naturezas. Acesse os canais de comunicação disponíveis no site. O importante é possibilitar o acesso às informações contidas nos documentos.

Aproveite e veja as últimas notícias sobre o que andamos fazendo no Centro. Basta acessar o Magazine Cemip. Obrigado.

Fontes:

BAUMAN, Zygmunt; JÚNIOR, Léo PERUZZO. «Sociedade, linguagem e modernidade líquida». Revista Diálogo Educacional. 16 (255). doi:10.7213/dialogo.educ.16.047.dc02<acessado em: 21/03/2017>

https://www.bcb.gov.br/pec/appron/apres/cartilha.pdf.<acessado em: 21/03/2017>

https://pt.wikipedia.org/wiki/Zygmunt_Bauman<acessado em: 21/03/2017>

http://cemip.adb.inf.br/?page_id=6006<acessado em: 21/03/2017>

http://exame.abril.com.br/revista-exame/quem-quer-dinheiro-2/<acessado em: 21/03/2017>

https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/10/28/de-compra-pela-internet-a-mesada-veja-opcoes-de-uso-do-cartao-pre-pago.htm<acessado em: 21/03/2017>

http://www.eleconomista.es/economia/noticias/8233656/03/17/Reduzcamos-el-papel-moneda-un-llamamiento-a-acabar-con-los-billetes.html<acessado em: 21/03/2017>

Imagens:

1) http://www2.maringa.pr.gov.br/sistema/imagens/gd_65081fc66a2e.jpg

2) http://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/d5/2016/02/10/nota-de-500-euros-1455124533452_615x300.jpg

3) https://www.cemip.pro.br/wp-content/uploads/2016/08/logo-cemip-yuri-victorino-200x.png

 

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